Os Palestrantes serão os Prof. Dr. José Leite Júnior (UFC), a Profa. Dra. Sueli Saraiva (UFC) e o professor José Carlos Siqueira.
A seguir, os resumos das falas dos Palestrantes:
"Claridade: discurso constituinte de Cabo Verde".
Prof. Dr. José Leite Junior
A revista Claridade, com nove números publicados entre 1936 e 1960, é
reconhecida como a publicação seriada mais relevante de Cabo Verde. A
diversidade de gêneros textuais da autoria dos claridosos, variando do
poético ao antropológico, não esconde o traço comum da busca da
identidade cabo-verdiana. Tal invariante, em meio às variantes textuais,
pode ser entendida à luz da categoria do discurso constituinte,
proposta por Maingueneau (1995, 2006, 2008). São evidências do discurso
constituinte da Claridade, que reuniu uma comunidade discursiva própria,
traços como o uso do crioulo ao lado do português, o espelho na
literatura, na antropologia e na sociologia do Brasil, a paratopia em
torno da Pasárgada e a adoção de postulados da poética modernista, como
os versos livres e brancos, marcas de uma enunciação ideologicamente
fundadora e legitimadora das instâncias jurídico-políticas que se
efetivariam na independência política de Cabo Verde.
"Relações literárias entre Brasil, Angola e Moçambique"
Profa. Dra. Sueli Saraiva (UFC-CAPES)
Em entrevista à pesquisadora brasileira Rita Chaves, o poeta maior de Moçambique, José Craveirinha (1922-2003), assim recorda a importância dos autores e obras brasileiros em sua educação literária e na formação da literatura moçambicana, ainda sob o regime colonial português: “Nós, na escola, éramos obrigados a passar por um João de Deus, um Dinis, os clássicos de lá. Mas, chegados a uma certa altura, nós nos libertávamos. E, então, enveredávamos por uma literatura “errada”: Graciliano Ramos ...
Então vinha a nossa escolha, pendíamos desde o Alencar. Toda a nossa literatura passou a ser um reflexo da Literatura Brasileira. Então, quando chegou o Jorge Amado, estávamos em casa. [...] ”. No mesmo tom de reconhecimento, o angolano José Luandino Vieira (1935) enfatiza a revelação proporcionada pelo texto de Guimarães Rosa no florescimento de sua prosa ficcional, “ensinando-lhe” a liberdade de criar, recriando a língua portuguesa. Nesta comunicação propomos discorrer sobre essas “relações
literárias”, com base no atual comparatismo literário, em sua problematização dos conceitos de influência, imitação e originalidade.
Prof. José Carlos Siqueira
Quando Eça de Queirós debutou na literatura, nos folhetins da Gazeta de Portugal , o editor do jornal assim descreveu o jovem cronista: “Tem muito talento este rapaz; mas é pena que estudasse em Coimbra, que haja nos seus contos sempre dois cadáveres amando- se num banco do Rossio, e que só escre...va...va...va em francês”. A gagueira do editor serviu- lhe para enfatizar que a escrita e o estilo do principiante Eça fugia, e muito, daquilo que se considerava o português castiço e, em especial, da norma literária daquela língua. Sem o saber, o jocoso jornalista cometia involuntariamente uma ironia, pois essa nova forma de sintaxe, de escrita dita afrancesada, passaria a ser o ideal de grande parte dos escritores do final do século XIX em Portugal. Mais ainda: os espanhóis sofreriam sua influência e, no Brasil, até a metade do século XX, Eça seria o modelo da prosa literária por excelência. A presente comunicação pretende fazer um breve resumo da revolução eciana na escrita de ficção em português.
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