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domingo, 5 de janeiro de 2014

Contos da Superfície


Preciso na criação de climas, somos transportados em poucas palavras a imagens reconhecíveis e acontecimentos singulares (porém marcantes) do cotidiano do Ceará. A pele das coisas fixa-se mais na memória que os nomes próprios: tipos físicos, gestos, caminhos, edificações, atravessam temporalidades diferentes e falam de algo muito íntimo de uma coletividade. Seus acontecimentos se desenrolam nos quintais das casas de vão comprido e fachada estreita, saindo dos buracos incrustrados nos muros dos terrenos baldios da cidade, no porto, na casa do caseiro de sítio, no pequeno circo mambembe.

Centrado no universo humano (embora os animais estejam muito presentes) muitas vezes seus personagens nos são guias que permitem explorar esses espaços de Fortaleza e interior do Ceará. Pode-se afirmar isso, por exemplo, da condição dos mais velhos em nossa cidade sem calçadas (”A visita ao filho)”, das relações onde é forte submissão da mulher a uma sociedade patriarcal, machista, que a leva ao esgotamento pleno (”Os doze parafusos”), do desejo entre jovens primos, uma puberdade vivida entre a urbanidade e o campo (”A Gota Delirante”), do lazer das classes abastadas, seu sistema de valores (”Dizem que os cães vêem coisas”, “Lama e Folhas”).

Cronista das superfícies, Moreira Campos consegue unir, em sua obra, muitas facetas de uma sociedade em movimento, observando camadas de convivência que se sobrepõem, se acumulam e, no seu acúmulo, falam de muitas partes de um todo, de um povo.
 
Fred Benevides é cineasta. Ele tem dirigido uma série de curtas sobre a obra de Moreira Campos. O primeiro deles é o filme As Corujas, de 2009.



Fonte: http://www.opovo.com.br/app/opovo/vidaearte/2014/01/04/noticiasjornalvidaearte,3185179/contos-da-superficie.shtml

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